Quando o homem passou
a ser a sombra no castelo,
a mulher encarcerou
o amor nas nuvens.

À janela do castelo
a mulher sempre esperava.
Bátegas de chuva beijavam-lhe
o rosto enrijecido pelo tempo.

O homem descia então da lua,
pousando no castelo
como uma ave, alimentando-a,
lembrando-a do firmamento.

No castelo, os corpos corriam
ágeis, em movimento,
sorrisos que das folhas
mortas ganhavam vida.

Quando apagaram a luz
do castelo, duas sombras deram
por fim as mãos.
Reside agora o amor nas pedras.

Beatriz Meireles
Santiago do Cacém, agosto de 2024