Num papel de seda,
embrulhei o poema.
Atei-o a um finíssimo cordel,
perfumado a alfazema.
À sede, deixei a flor de papel
dentro da mão fechada,
para guardar no poema
o que voou à palavra.
À luz da vela, velei o poema…
…sofrida, delicada, abnegada…
Sem rescender nada,
em cinza se fez a alfazema.
A larva consumiu a seda,
o casulo do poema,
pé aspérrimo, indelével,
que da praia descalça areia.
Decidi desatar o cordel,
espraiando-se livre, o poema.
Flutua à alva límpida,
cisne branco que na água reina.
Beatriz Meireles