ao Bernardo
Dançam as mãos do menino com o cavalo de brincar. A galope, no ar, há tanta lucidez na infância, uma transparência comovente.
Dançam as mãos da menina num livro de poesia, onde sonho também encontrar o meu cavalo de criança…
Creio que era púrpura, de crina amarela, não caberão outras cores iguais.
Quando eu morrer, o que é certo, sonho que o meu filho apanhe das páginas todas as flores secas, sem esquecer de o procurar. Não irão comigo, deixo-as com um propósito claro, obrigá-lo a encontrar o meu cavalo de criança…
Cumpra-se o desejo pueril de uma mãe para que não envelheça em iniquidade! Mesmo que seja a trote, nunca deixem as mãos de dançar com o cavalo de brincar…
Sur le pont d’Avignon, julho de 2025
Beatriz Meireles