Era nas cerejas que eu procurava
as palavras.
Era a boca docemente ardente,
rubra, tão rubra, desobediente.
Era o fluído pouco denso,
mácula de tantas almas proibidas.
Era o obstáculo, a cegueira,
a tua maior do que a minha –
a quem servirá o poema?
Era o desassossego, a árvore
e o fruto e eu.
Era a ausência nada merecedora
de explicação,
o irreal aos teus olhos
imensamente invisível.
Era nas cerejas que eu procurava,
se era nas cerejas…
Tantas provei, jamais encontrei…
… as palavras
Beatriz Meireles
Dezembro 2024