Havia algures uma manta quadrada, de lã azul. A manta que a mãe procurava significava amor e proteção, mas também medo do desconhecido.
Depois de a encontrar, trouxe-a para casa, com muito cuidado. Assim que veio finalmente o filho, tirou-a da gaveta, onde a guardara, quase em segredo, dobrada e perfumada de atenções florais, uma autêntica relíquia.
A manta, maior do que o corpo do pequeno, começou a abraçá-los aos dois como se fossem uma só pessoa, presa a um cordão umbilical imaginário. A manta estava muito contente, correspondendo ao desejo da protetora, revestir o menino de beijos quentes, mesmos nos dias não invernosos.
O filho foi crescendo e a mãe apenas tirava a manta do baú para curá-lo de enfermidades, até que deixaram ambos de a usar, as pernas e os pés descobertos pelo vento.
Quando deixou de ter a presença da mãe, o filho deitou fora a manta, que foi levada, do entulho, por uma outra mãe para um filho que nasceria. Ambos ultrapassariam os obstáculos da vida, unidos para sempre pelo calor que a manta emanava.
Beatriz Meireles
Para o meu filho Bernardo, no Dia da Mãe de 2024.
Para as mães dos meus afilhados.